
Fonte: Um Só Planeta / Foto: Pixabay 5i1va
Se cada cidade expandisse sua rede de ciclovias e redesenhasse suas ruas para corresponder às de Copenhague, na Dinamarca, as taxas globais de caminhada e ciclismo aumentariam em 663 bilhões de quilômetros por ano. Isso levaria a uma redução estimada de 6% nas emissões globais de carbono e US$ 435 milhões (aproximadamente R$ 2,7 bilhões) em benefícios à saúde.
Os dados fazem parte de um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade da Califórnia, em Los Angeles (UCLA), nos Estados Unidos, e do Google, publicado esta semana na revista científica PNAS.
“A maneira como as cidades projetam suas ruas molda fundamentalmente a forma como as pessoas se locomovem, especialmente em viagens curtas. Há calçadas? Ciclovias? Qual a largura das faixas de tráfego? Neste estudo, mostramos que essas escolhas de planejamento aparentemente locais, tomadas em milhares de cidades ao redor do mundo, podem, coletivamente, impulsionar grandes mudanças nos resultados climáticos globais”, disse Adam Millard-Ball, principal autor e diretor do Instituto de Estudos de Transporte da UCLA.
A equipe de pesquisa utilizou dados do Environmental Insights Explorer, do Google, que engloba históricos de localização agregados e anônimos de usuários participantes. O EIE permitiu identificar o número e o modo de viagem, juntamente com a distância percorrida por cada modo dentro de uma determinada cidade. Foram analisados padrões de viagens realizadas em 2023 em 11.587 municípios em 121 países e seis continentes.
Em entrevista ao El Pais, Millard-Ball acrescentou que a principal conclusão foi que há benefícios substanciais para a saúde e o clima ao redesenhar ruas com ciclovias. Mas ele salientou que as cidades “não precisam se tornar como Copenhague ou Amsterdã para serem bem-sucedidas: há inúmeros exemplos positivos ao redor do mundo, de Buenos Aires a Montreal e Osaka”.
Menos mortes, poluição e estresse
O estudo destaca ainda que políticas de promoção da caminhada e do ciclismo também podem reduzir as mortes no trânsito, a poluição do ar e o estresse dos usuários das vias. Mostra ainda que cada quilômetro adicional de ciclovia está associada a aproximadamente 13.400 quilômetros adicionais de viagens de bicicleta, e que cidades com declives menores tendem a ter uma proporção maior de ciclistas, enquanto outras variáveis, como o preço da gasolina, também levam as pessoas a se deslocarem mais de bicicleta ou a pé.
“O projeto das ruas – calçadas, travessias seguras e medidas de moderação do tráfego, como cruzamentos elevados – é importante para os deslocamentos ativos”, diz o estudo, que descobriu ainda os benefícios de densificar as cidades – ou seja, fazer com que mais pessoas vivam perto e em prédios altos – em comparação com a tendência crescente de criar bairros suburbanos com moradias dispersas, onde a única maneira eficiente de se locomover é por veículo particular.
Mas como isso pode ser feito? “A Cidade do México (México) e São Paulo (Brasil) facilitam a construção densa, eliminando a exigência de que as incorporadoras construam amplos estacionamentos. Outros requisitos que as cidades podem implementar incluem a redução da distância entre os prédios e a rua ou o aumento dos limites de altura dos prédios”, indicou Millard-Ball ao El Pais.
Manuel Franco, professor pesquisador do Centro Basco para as Mudanças Climáticas em Ikerbasque, e que não participou do estudo, observou que “cidades mais densas ajudam as pessoas a se deslocarem mais a pé, porque são mais difíceis de se locomover e há mais lugares para ir nas proximidades, o que leva a mais caminhadas”.
Em sua opinião, “o artigo mostra que todas as cidades podem se tornar mais caminháveis e destaca que caminhar tem um efeito muito poderoso na saúde e no meio ambiente, pois reduz as emissões de gases de efeito estufa”. “O planejamento urbano deve ser muito considerado, porque afeta a todos nós como cidadãos”, finalizou.