
Fonte: Autoesporte / Foto: PABLO BIELLI / AFP 616j5d
José “Pepe” Mujica foi um dos maiores ícones da esquerda sul-americana nas últimas décadas. De preso da ditadura militar uruguaia durante 14 anos a presidente do país, entre 2010 e 2015, o político falecido na terça-feira (13) se notabilizou por levar uma vida simples, longe dos deslumbres do poder e com apego à uma rotina de fazenda.
Talvez nada mais simbolizasse o estilo de vida de Mujica do que seu Volkswagen Fusca azul ano-modelo 1987. Em 2014, quando Pepe ainda presidia o Uruguai, um sheik árabe chegou a oferecer US$ 1 milhão (o equivalente a R$ 5,6 milhões, na conversão atual) pelo veículo, oferta gentilmente recusada por seu proprietário.
O curioso é que, na época, um Fusca equivalente era avaliado em cerca R$ 7 mil. Mas aquele não era qualquer Fusca, por isso o valor transcendia o comum. Mujica recusou ainda outras ofertas pelo veículo, ficou com o carro até o fim dos seus dias — na verdade, ele tinha dois Fusca, mas outro já não funcionava havia anos.
Em 2023, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, encontrou-se com Mujica em sua fazenda no Uruguai e chegou a dar umas voltas no banco do carona com Pepe dirigindo. Seu Fusca era pintado em uma cor chamada azul Niagara.
Outra curiosidade é que, apesar de ser da linha 1987, o Volkswagen Fusca de Pepe Mujica é brasileiro. A confusão se dá porque a produção do icônico sedã no Brasil foi encerrada no fim de 1986 e retomada apenas entre 1993 e 96, com o chamado "Fusca Itamar".
Por isso, muita gente afirma que a unidade do falecido ex-presidente uruguaio havia sido fabricada no México, o país que manteve o "besouro" em linha pelo maior período consecutivo, entre 1964 e 2003. Contudo, diversos detalhes do veículo apontam que se tratava de uma unidade produzida no Brasil, na fábrica da Volkswagem em São Bernardo do Campo (SP).
Um exemplo são o para-brisa e os vidros laterais ligeiramente menores, no formato da versão brasileira e não mexicana. Além disso, enquanto o Fusca mexicano, conhecido como "Vocho", integrava as luzes de seta dianteiras ao para-choque frontal, o brasileiro as tinha aplicadas sobre os para-lamas, exatamente como o modelo do político uruguaio.
Mas como pode um Fusca 1987 ser brasileiro se o modelo já não era mais feito aqui? Isso Mujica nunca respondeu, mas o mais provável é que o veículo tenha sido produzido aqui ainda no final de 86, exportado para o Uruguai, um mercado muito pequeno, e só vendido lá no ano seguinte, já como linha 87.
Em seus últimos anos de produção nacional antes da retomada do projeto “Itamar”, o Volkswagen Fusca era sempre produzido com o motor 1600 (1.6) boxer refrigerado a ar conhecido como Tork, com carburador Solex de corpo simples e comando único no bloco. Rendia 57 cv de potência e 11,8 kgfm de torque, com câmbio manual de quatro marchas e tração traseira. O 0 a 100 km/h é feito em longos 16 segundos, enquanto a velocidade máxima é de 137 km/h.
Nos últimos anos dessa primeira fase do Fusca nacional, as unidades já saíam de fábrica com encostos de cabeça e cintos de segurança de três pontos nos bancos dianteiros, elementos também presentes no Fusca azul Niagara de Pepe Mujica.